terça-feira, 1 de junho de 2021

POLÍTICA DO CONVENCIMENTO - EXTREMOS QUE DESCONSTROEM ... (Parte 1)

O assunto é política, mais precisamente a polarização doentia que tem tomado de conta dos discursos em todo o Brasil, um comportamento temeroso e infelizmente recorrente e que tem tomado força bilateralmente para prejuízo da democracia. Adianto que para formular meu pensamento faço um passeio também sobre o comportamento do homem com relação às muitas e diferentes religiões do mundo, campeando os entendimentos sobre o convencer e o converter para explicar o cancro comportamental-ideoemocional que tem afligido nossa nação.

Os pensamentos políticos no Brasil são os mais diversos possíveis, e seguem uma tendência secular de delimitação do ideal político, uma forma de dar nome ao estilo de pensamento no sentido de fortalecer essa ou aquela corrente de ideias. As denominações esquerda e direita não traduzem limitações específicas do pensamento político, elas tentam cercar modelos e posturas de certos indivíduos mais não conseguem abarcar o todo da formação e do ideário político deste mesmo ser. É possível, por exemplo, uma pessoa ter uma orientação política de direita em alguns temas e em outros ter sua visão mais próxima das demandas conceituais de esquerda. Um conservador pode muito bem, sem abrir mão de seu ideal de defesa das instituições, ser adepto de programas sociais que contemplem minorias de maneira justa e visando uma construção positiva de políticas mais coletivas e duradouras, assim como um democrata pode aceitar, sem lançar fora sua convicção, o entendimento da importância de manutenção das instituições pilares de uma sociedade para um progresso mais consolidado e forte. 

A formação religiosa de uma pessoa passa por inúmeras circunstâncias que não são necessariamente religiosas, mas que interferem na formação dos indivíduos. A história de vida de uma pessoa religiosa explica muito bem as suas convicções religiosas e mostra que ela é o resultado de um apanhado de acontecimentos que convergiram naquele modelo de pensamento, e que ao se adequar ela deu demonstrações de conformidade com aquele estilo de construção religiosa. 

Cada pessoa desenvolve ao longo de seu crescimento uma personalidade, e esta conta com interferências de outras pessoas que, em sua maioria mas não todas, estão imbuídas na missão de educar, trabalhar modelos de elaboração do caráter do indivíduo a partir de suas próprias experiências, tentando formar novos seres pensantes que trabalhem dentro de seus mesmos modelos para a construção de um ambiente salutar ao coletivo do qual eles fazem parte. No tocante ao convívio social é saudável pensar que a pluralidade é uma realidade, tendo em vista que as circunstâncias de construção de vida de um indivíduo podem diferir bastante das circunstâncias de construção de vida de outro que não teve os mesmos modelos durante a formação de sua personalidade, de seu pensamento crítico, de suas percepções de certo e errado, de belo e feio, de sagrado e profano e por aí em diante. Nesse tempo de formação, não deveria mas acontece muito, a pluralidade é vendida muito como conceito e pouco como cultura, o que explica o fato de muitas pessoas entenderem-se como pluralistas mas se comportarem como sectaristas, e o pior de tudo, pautando seu sectarismo como o verdadeiro pluralismo e entendendo o plural e diverso como variante mentirosa e enganosa daqueles que não compactuam com seu modo de enxergar o mundo e a vida.

A religião é em síntese a ligação entre o homem e uma entidade sobre-humana, uma divindade poderosa que atua desde a criação do homem, e que cuja criação deve para consigo, em forma de reconhecimento e gratidão, seja pelos feitos mais primitivos e originários ou por benesses vindouras, adoração e culto durante toda sua existência na condição de humano, para então poder fazer jus ao regalo do que essa divindade pode lhe oferecer na vida após morte. Essa relação entre homem e deuses é uma necessidade primitiva da vida humana, posto que não temos de fato uma explicação tácita e definitiva para questões como a origem da vida, ou mesmo de seu sentido maior. É fácil, mesmo para um cristão como eu, entender que as religiões são muitas e cada qual obedece às construções culturais dos espaços aonde elas estão inseridas, e os deuses, mesmo que com histórias um tanto diferentes em alguns aspectos, muito parecidas em outros, terminam por serem também elaborações que partem do imaginário oral e ou literário dos religiosos incumbidos de proliferar suas crenças pelo espaço de terra mais longínquo possível. Sim, estes deuses, acreditamos nós os submissos a qualquer um deles, nos proporcionam experiências metafísicas que justificam a nossa adoração, a nossa devoção, louvor e respeito no campo do sagrado, e assim nos impelem a querer que outras pessoas a quem queremos bem tenham o mesmo nível de experiência que temos dentro de nossas religiões, e nesse momento esquecemos um pouco dos aspectos de formação do indivíduo que explica o porquê de outras pessoas dedicarem suas existências a deuses diferentes do nosso. Uma das aspirações religiosas é a difusão da fé para a redenção do maior número de humanos que se puder alcançar, e para isso se faz necessário um trabalho de conversão e posterior educação dos neófitos dentro da doutrina religiosa. A conversão é em sua essência uma mudança completa de posicionamento, tomada de sentido oposto, transformação completa de todo um ideário, é uma troca consciente e voluntária de perspectivas e do próprio direcionamento de ideias. 

Na religião como na política o processo de conquista de novos adeptos se dá pelo mesmo meio, e não há como ser diferente, o que explica um tanto dos males que tem atingido nossa sociedade no campo das ideias políticas, uma avalanche de tentativas e erros de convencimento que alimentam a raiva temporária como reação a um fato ao ponto de a raiva se transformar em um ódio cabal decorrente de inúmeras e repetidas tentativas e erros de convencimento. Convencer é tentar persuadir alguém a aceitar algo, uma atitude muito comum em situações de convivência mais simples e transitórias, e nesse ponto não há a necessidade de uma transformação de todo o entendimento das vivências de um indivíduo, de ressignificação, o convencimento se dá em espaço de tempo e envolvimento menores e mais simplórios. O convencimento é uma tentativa menos elaborada que a conversão, esta segunda demanda maior conhecimento de aspectos diferentes da vida do indivíduo, enquanto o convencer só exige um poder de argumentação mais convincente e adequado para cada caso. Exatamente, melhor formulando podemos afirmar que o argumento convence mas não converte, para haver uma conversão é necessário o abandono do argumento puro e simples para o assumir a postura de envolvimento do todo da vida daquele a quem se quer converter, e assim através do respeito às experiências de vida deste, aos poucos inserir novas percepções e posturas diante da vida.

Para convencer alguém existem técnicas que ensinam as pessoas na prática da persuasão, modelos de construção dos argumentos e formas de encaixe e utilização do argumento no discurso, de maneira que o interlocutor se envolve em um jogo de confiança e observação a respeito do tema abordado. Agora caro leitor, peço especial atenção, para converter alguém, seja no campo religioso ou político é demandado um cuidado, zelo e até amor maior ao objeto de sua aspiração. Não se converte pelo convencimento, se converte pela transformação, pelo exemplo de vida que instiga o desejo do outro em ser igual, e para transformar, converter, é necessário que o seu interlocutor perceba em você alguém de extrema confiança e cuja postura de vida seja almejada e aceita. Para converter é necessário também aceitar, é mister que os envolvidos estejam dispostos a compartilhar e convergir pensamentos, é uma relação de troca de experiências no ouvir, no ver e no falar, é uma verdadeira compreensão das condições do outro e o entendimento de que ele pode se adequar ao modelo de pensamento que é característico seu. Para converter é importante entender que, mais que necessário, condição sine qua non é o amor amigo, a presença de espírito que permita fluir entre ambos a transformação por completa de um em razão de todo o processo trabalhado pelo outro.

Entre o convencer e o converter há uma distância que justifica a doentia e constante relação dos indivíduos com a política nos dias atuais, no convencimento não existe sinergia e sim uma tentativa desesperada de se mostrar na razão, e ambos os lados trabalham com a mesma força e intenção, gerando um conflito certo e doloroso que faz sangrar em fluxo contínuo a nossa democracia. Não me convenço dos argumentos raivosos dos insanos, não me converto pois tenho, tanto minha fé em Cristo como minha convicção política conservadora, bem consolidados e fundamentados, porém amo o meu igual budista, hinduísta, umbandista, candomblecista, espiritualista, de esquerda convergente ou não, direita divergente ou partícipe de minha visão, de centro, negro, branco, índio ou pardo, homo, hetero ou trans todo e qualquer ser que respeite e labute pelo bem da humanidade, e em meu amor está o respeito pela forma destes de pensar...




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