sábado, 4 de agosto de 2012

LUZIÂNIA EM: DESACATO...

Hospital Regional de Luziânia
     Recentemente, ao entrar em um hospital público, verifiquei em pelo menos dois lugares distintos e bem visíveis, informativos com dizeres muito conhecidos por nós cidadãos. Com base no artigo 331 do código penal, o papel colado na parede e por vezes em balcões de atendimento de repartições públicas e órgãos diversos dos poderes federais, estaduais e municipais, serve como um alerta a todos que buscam serviços em algum desses locais. Em um estudo, onde minha preocupação primeira era identificar a importância da humanização no atendimento de órgãos públicos, isso ainda no ano de 2007 (Estado, é possível humanizar suas ações. Artigo do autor), percebi a distância que havia entre a população e os serviços dos quais ela precisava. Uma indignação crescente e quase que irremediável era o sentimento dominante nas pessoas que ocupavam a "linha de frente" do atendimento ao público. E então, como uma forma de proteção, os informativos foram se tornando parte decorativa, e em muitos casos, a saudação de boas vindas daqueles locais que se destinavam a solucionar os mais variados problemas dos contribuintes. 

   Antes de continuar, quero informar que não tenho a intenção de desmerecer o funcionalismo público federal, estadual ou municipal. Nem tão pouco discordar da lei que busca garantir o bom funcionamento das instituições, e ainda preservar a integridade do servidor no exercício de suas funções. Vale ressaltar que o texto não se trata de uma reportagem investigativa, com vistas a denunciar quem quer que seja, mas sim, uma publicação legítima de um cidadão que vê nos serviços dos quais precisa, um crescente descaso e uma inversão de valores, onde o cidadão deixa de ser um virtuoso contribuinte para se transformar no mais incomodo dos seres.
     
     Nenhum cidadão, ao menos que eu tenha conhecimento, se propõe a sair de casa em direção a uma enorme fila, para simplesmente estragar o dia de quem irá atendê-lo. É fato que o atendimento em órgãos públicos está muito distante de um atendimento minimamente digno. Não posso deixar de citar aqui a pessoa do servidor, que em muitos casos até se propõe a prestar um bom serviço, contudo, o estado não lhe oferece condições para tanto. O que se percebe é justamente o descaso da máquina pública com aqueles a quem ela deve servir. Durante este período de campanha eleitoral, notamos a facilidade com que as coisas acontecem em nosso município. E tenho certeza que nos demais municípios do país a coisa não deve ser muito diferente. Então, decidi tentar entender o que nos diminui tanto em quanto cidadãos, ao ponto de termos que temer um simples comunicado fixado em local visível, alertando-nos para o risco de sermos detidos ou multados, caso desacatemos aquele servidor e o órgão que representa,  diante do descaso que demonstram por nossas necessidades. 
     
     Depois de alguns atendimentos, onde um passante iria entender que eu estava de alguma forma ofendendo quem me atendia, tendo em vista a rispidez como fora tratado, comecei a alimentar um certo receio de me consultar, ou até mesmo passar por perto do Hospital Regional de Luziânia. Me inclino a acreditar que por ocasião desses atendimentos, as servidoras, e em todas as vezes fui atendido por mulheres, não estavam nos seus melhores dias, e algumas vezes dado o avançado da hora, ainda penso que não fora uma boa idéia me levantar altas horas da madrugada, para ir simplesmente incomodar o bom descanso daqueles que infelizmente teriam de me atender. Tenho que admitir que o momento não era o ideal para se adoecer. Um leitor de nosso blog fez um relato que muito se assemelha à vivência de muitos cidadãos de nossa cidade, e no caso dele, que optou por procurar um hospital particular, é de se espantar que o atendimento tenha sido tão desumano. O leitor nos relata que sua esposa ficou mais de 30 minutos esperando por alguém que pudesse tirar o soro e o acesso, sem que os diversos funcionários do hospital lhe dessem a devida atenção, contudo, ao sugerir que intencionava pagar a conta dos serviços prestados pelo hospital, de pronto apareceu-lhe alguém apto a resolver suas necessidades. 

     Eu considero incrível a capacidade que temos de tolerar as coisas. Constantemente somos assaltados em nossa dignidade, somos enganados e lesados por conta da má administração pública. Somos atingidos em nossa fé, como se na verdade só tivéssemos importância no momento único da legitimação do nosso voto. Porém, considero ainda mais incrível, a incapacidade da engrenagem pública de se alinhar. A cada 4 anos o poder, mesmo que de forma simbólica, muda de mãos, e os representantes que assumem diretorias, supervisões, gerências, administrações e cargos afins, não conseguem se empenhar na essência de suas funções. As advertências constantes nas repartições e citadas aqui, não são simplesmente lembretes dos direitos do servidor, mas configuram uma arma de defesa que tenta se sobrepor ao péssimo atendimento desprendido em favor do povo. Somos constantemente desrespeitados quando precisamos de um serviço público. Em filas que não se enxergam o fim, na grosseria como somos tratados, no descaso com nossas necessidades, na forma relapsa como muitos funcionários se portam no exercer da sua função, e atrelado a isso, o nosso sentimento de incapacidade nos mostra quão longe estamos de sermos considerados dignos diante do poder público. Nossas algemas já estão cerradas, apertadas em nossos punhos e se arrochando a cada movimento que sugere uma luta pela liberdade. Somos reféns e réus, culpados por mantermos a inércia quando de nossas ações por melhorias, e cativos da liberdade que assiste o cidadão de se impor no exercício de sua cidadania.

Cidade de Luziânia - GO
     Quando em 2007 escrevi o artigo "Estado, é possível humanizar suas ações", o fiz como justificativa de um projeto desenvolvido com esse fim, de dar ao estado em suas repartições, a opção de tornar seus colaboradores mais humanizados quando do atendimento ao público. Isso tendo em vista, que a importância de um bom e eficiente atendimento, sempre daria tanto ao contribuinte como ao servidor, a noção exata da relevância de cada um na construção da cidadania e de um estado mais forte e compacto. Na cidade de Luziânia, onde resido, tive minhas experiências negativas, porém, conheci alguns servidores no desempenho de seus papéis que demonstraram uma legítima preocupação com os que buscavam seu auxílio. O triste de toda essa história, é que durante o período eleitoral, tudo irá convergir para boas ações e favores que nada têm a ver com a saúde moral de nossa cidade. A demanda do momento é a busca por um lugar ao sol, a corrida intensa por conseguir cada qual mordiscar o máximo que puder dos cofres abertos das campanhas eleitorais. E nisso, vamos esquecendo do essencial, vamos deixando ser encoberto o fato do descaso que os nossos representantes desprenderam a nós nos últimos 4 anos. Agora, somos nós que mesmo algemados, desacatamos nossa cidadania, e assim corroboramos com as ações que sempre nos diminuíram. 

     Devemos no entanto considerar, e para isso é importante o entendimento do leitor, que respeitamos a figura do funcionário público, e ainda respeitamos a legitimidade dos direitos rezados no artigo 331 do código penal. O que nos deixa indignados, é que diante do péssimo atendimento oferecido nos mais diversos órgãos, esses informativos soam como uma grande afronta aos nossos direitos de cidadãos, posto que nada reza,  em cartazes ou informativos visíveis, sobre o desacato ao cidadão ao tentar exercer ele também alguns de seus direitos. Essa questão tem seus lados distintos e em ambos cabe razão. Justo que não se pode generalizar a ação dos servidores públicos, nem de longe macular suas atribuições por conta de uns poucos que não se importam com o bom desempenho de sua função. O que se espera então, é que o poder público um dia acorde para essa situação, e se preocupe na constante formação do servidor cidadão. É possível tornar os serviços públicos em ferramentas de fortalecimento democrático, assim como é possível dar condição desses mesmos serviços, conquistarem a confiança da comunidade e voltarem a ser parte importante na construção da dignidade cidadã.

     O papel do cidadão sempre será pautado pelo respeito, e sua condição favorece a democracia à medida que ele tem ciência de sua importância. Hoje somos mais conscientes que ontem, e ainda assim, menos prudentes. A culpa também é nossa, pois deixamos com muita frequência que nos furtem no que temos de mais precioso que é nossa credibilidade. Então entendo também que a mudança deve começar em nós. O servidor cidadão se constrói primeiro na comunidade que o mesmo está inserido, o que não o exime da relevância social do papel que deve desempenhar como servidor. O fato de os serviços públicos essenciais em muitas vezes não respeitarem nossa condição de cidadãos, não deve nos arrefecer na luta por dias melhores, ao contrário, deve servir como incentivo na constante busca por uma melhor qualidade de vida de nossa comunidade. É nessa luta que ainda acredito, e estou certo de que a sociedade tem aos poucos se direcionado rumo a uma melhor condição para o coletivo de nossa comunidade. Se temos ciência dos passos errados que damos, mais fácil fica para reorganizarmos nossos caminhos.             



     

2 comentários:

  1. Caro funcionário público, por favor não me entenda mal. O meu texto se direciona a todos que não têm consciência cidadã no exercício de sua função. Eu sei, e é fato, que vários servidores são muito eficientes e respeitosos nas posições que atuam e nos serviços que prestam. A estes meu muito obrigado e meu profundo respeito.

    ResponderExcluir
  2. O candidato a Vice Prefeito de Luziânia, o Sr. Didi Viana, respondeu em nossa página do Facebook o convite que fizemos para que opinasse sobre o tema do artigo. Grato por seu pronto atendimento, segue abaixo a contribuição do mesmo:

    "Meu caro Marcus, fiquei muito impressionado com seu artigo. Acontece que a situação dos serviços e servidores públicos chegou a uma situação intolerável, mesmo q isso seja um problema estrutural, em Lza e Goiás isso se configura de forma mas evidente, por se tratar de territórios dominados por tucanos, que ao longo destes anos desmontaram os serviços públicos c suas teses conservadoras de "estado mínimo", consequência: serviços públicos sucateados, foi-se junto a motivação dos servidores públicos. O estado aqui em Goiás só se maximiza, quando é pra dá sustentação aos cachoeiras da vida, já no nível municipal, principalmnte nesta área da saúide foi tudo "combonado c os zagueiros", o grupo político do prfeito tucano domina a medicina privada em nossa cidade, por isso o fortalecimento da saúde do lucro. Vamos ter com certeza pela frente, um grande desafio ao chegarmos na prefeitura a partir do ano que vem, se opovo assim quiser, será uma luta intensa na recuperação da rede, e o principal desafio será recuperar a auto estima dos nossos servidores, com uma política de resgate dessas carreiras e abertura de concursos públicos. To convencido de que o nosso próximo prefeito Cristóvão vai sim topar este desafio! abs! dv."

    Obrigado sr. candidato, sua contribuição muito nos alegra.

    ResponderExcluir