terça-feira, 7 de outubro de 2014

LEITURA CONSCIENTE...

          Em um modelo social como o Brasil, exigir , ou mesmo esperar ações que partem do coletivo com intenções conscientes, parece uma tarefa um tanto quanto impossível. Primeiro porque nossa sociedade ainda não tem um entendimento racional e padrão sobre coletivo. Na maioria das vezes esse conceito remete a um grupo de pessoas que somando, e apenas no âmbito da matemática, compõem um número igual ou maior que três. Segundo porque incomoda saber que a consciência coletiva, exatamente como se fundamenta a lógica pluralista, sobrepuja os ideais e as acreditações individuais, o que não é fácil em uma construção ocidental que tem como base as preferências de cada indivíduo, e suas vontades em detrimento do que representa o seu próximo. Exatamente, diz-se aqui que nossa sociedade é egoísta, individualista, sem senso de coletividade e totalmente despreparada para o que rege a atual democracia. Ter ciência desse fato não muda a inexistência do que se entende por consciente coletivo, posto que o reconhecimento de uma falha não é necessariamente a resolução do problema, mas tão somente uma etapa do processo como um todo.

          Atualmente se ouve comentar sobre diversos assuntos ligados às muitas questões que envolvem o mundo político no Brasil, e essa reverberação cotidiana de acontecimentos importantes faz com que muitos brasileiros se sintam perdidos, deslocados e até entediados com tantas informações, contradições, reformulações e invenções conceituais. São momentos assim que mostram o quanto o pensamento tupiniquim está atrasado em relação ao seu tempo, como as pessoas insistem em se mostrar cada vez mais despreparadas para o que acontece em seus quintais, e que inevitavelmente irá interferir com peso nas suas vidas a curto, médio e longo prazo.

          A leitura que se faz desse momento é triste e desalentadora. Somos um povo preguiçoso e indisciplinado, e o pior de tudo, não estamos preparados para ter a liberdade que tanto pleiteamos. As falhas na educação brasileira não são resultados insatisfatórios de planos políticos desse ou daquele representante, mas sim, e sobretudo, da falta de compromisso que nós cidadãos temos com o nosso processo educativo. Nós não queremos mais estudar, nós não queremos ler nem tão pouco aprender nas escolas, ao contrário, buscamos cada vez mais, métodos que facilitem e otimizem o nosso tempo. Hoje em dia queremos regalias que atendam as necessidades mais urgentes do nosso modo capitalista de viver, e ainda por cima, queremos sempre um herói, que consiga transformar as escolas em um campo recreativo de alta capacidade, onde os filhos dessa nossa sociedade possam passar o tempo, um herói que nos roube, porém em contrapartida, cumpra o que nos foi prometido, que usufrua do que lhe permitimos,  e sem juízos de valor faça valer nossas vontades, se embebendo das riquezas que lhe proporcionamos e, nos dando em troca, uma satisfação mínima de ser atendidos.

          A dúvida que ainda paira sobre a mente menos motivada, se considerarmos as muitas instâncias que abarcam o indivíduo ocioso, é exatamente como se pode obter mais empregando cada vez menos esforço. Não se defende aqui a burrice do lutar excessivamente por uma causa que não se sustenta, mas sim, e essencialmente, do combate constante do ser em favor de ideais que se justificam pela causa abrangente, e onde as vontades imperiosas do coletivo se destacam, não desfavorecendo nossas convicções particulares, mas fortalecendo o conjunto de vivências em função de todos. A grande indagação se dá em torno do que realmente buscamos, de como nos portamos diante daquilo que já conquistamos, e ainda mais, do senso comum que tem determinado como devemos trabalhar a formação do nosso futuro.

          Em uma análise geral, é fácil entender o constante aumento da sensação de insegurança em razão da dúvida do que pode ser ou não do futuro social da nação, isto porquê a sociedade não tem uma visão real do que se passa em torno dela. As más escolhas, as frustrações com o que não se percebe, são resultados, mais do que esperados, de uma sociedade alienada, que não se dá ao trabalho de ler, de forma consciente, as circunstâncias que envolvem a nossa atualidade. As falhas de leitura resultam, nesse caso drasticamente, numa configuração cada vez mais bagunçada e controversa do mundo real. Assim, mais do que não ler, se mostra pior o ler inconsciente, que cria interpretações equivocadas sobre onde vivemos, acumulando o erro para uma construção inapropriada do que pode ser bom para nosso futuro.

Por: Marcus David  

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