quarta-feira, 29 de outubro de 2014

UM BRASIL QUE LÊ E NÃO PERCEBE... ESCREVE E NÃO ENTENDE...

          Tudo deveria seguir seu curso normal, seria um dia de celebração em razão da festa democrática que abraçava nosso país, seria um dia melhor para a maioria e não muito festivo para outra parte da população. A disputa política implica convicções, estas que movem cidadãos em todo o Brasil ao redor de pensamentos e posicionamentos distintos, todos eles, penso eu, voltados para aquilo que se entende como o melhor para a sociedade de uma maneira geral, ou mesmo para algo que aspiram alguns grupos menores, mas que via de regra atinge a todos os envolvidos direta ou indiretamente. O que se viu nos últimos dias através das redes sociais no Brasil foi, em grande parte, uma demonstração de que o amadurecimento democrático que esperamos para nossa nação está mais longe por conta do nosso comportamento do que por sua progressão natural em países com essa proporção demográfica.

         A polarização comum desde a redemocratização, verificada a partir das eleições de 1989, não explica essa avalanche de manifestações irracionais que vislumbramos nas redes sociais. As diferenças de avaliação quanto a ações do governo, as controvérsias no entendimento sobre posturas e dizeres políticos, as interpretações equivocadas de conceitos e as precipitações advindas desses erros, são alguns dos combustíveis que incendeiam os ânimos e fazem as pessoas minarem a democracia que tentamos construir.


      As escolhas em uma democracia obedecem as apostas da grande maioria, e mesmo que o embate seja travado com uma relação mínima entre as diferenças, os resultados são respeitados e trabalhados em benefício de toda uma coletividade, posto que as propostas superadas em um pleito majoritário servem de base para uma oposição construtiva que visa estabelecer equilíbrio entre as forças. As diferenças de classes não determinam esse embate, e também não fazem da democracia capitalista um sistema pervertido e decadente que consome a vida da sociedade, elas apenas expõem, como faz em todos os sistemas políticos, com maior clareza, as deficiências a serem trabalhadas em políticas públicas e sociais que caminham na direção da diminuição das disparidades, porém, não se iludam, nunca da extinção delas. Não há verdade nas teses de que é o PT o partido dos pobres e necessitados do Brasil, nem tão pouco de que é o PSDB o reduto dos ricos, donos da razão, seres superiores e inalcançáveis em sua majestade. 

          Somos todos brasileiros, pensamos e entendemos de maneiras distintas, exatamente por sermos quem somos e como somos. Ser brasileiro é quase um sinônimo de pluralista, posto que nossa nação traz desde sua formação raízes de povos e culturas de todas as regiões da terra. A nossa história tem sim espaço para a ignorância, mas isso somente quando nos deparamos com pessoas que insistem, em todos os momentos da jornada, em não ler como de verdade nossa realidade foi construída. Todos os marcos tristes dessa estrada foram e, continuam sendo, protagonizadas por personagens que se recusaram a se reconhecer brasileiros, que vestiram uma carapuça utópica de cidadãos do mundo, ou seja lá de onde for, e se acreditaram seres fantásticos de uma terra imaginária onde suas crenças doentias chegaram a fazer algum sentido. As pessoas que se identificam com as ideias insalubres da ira como arma eficaz contra todos que se contrapõem aos seus ideais, são as mesmas que consomem a alma da democracia, que tem sido costurada ano a ano desde que nossa nação foi devolvida ao governo civil em 1985.


          Um novo modelo de manifestação se mostrou efetivo nos últimos anos, e ele também surgiu com os avanços advindos da abertura global que o Brasil abraçou, sem antes preparar seus cidadãos para uma formação consciente de usuários que fariam das inovações ferramentas que trabalhariam em função do social e do democrático, e não seu revés, um universo digital de inconsequências não banais que faz viajar na velocidade da luz, ou até mais rápido, as mentiras não medidas e as palavras de ódio. As novas tecnologias nunca prestaram serviço tão valioso aos parâmetros comportamentais do brasileiro. Muitos de nós não tínhamos noção de quantos milhares de insanos estão escondidos no meio de grupos sociais de diversos tipos. Dentro das igrejas, das escolas, das empresas, dos partidos políticos, dos clubes sociais, dos comércios, nas casas ao lado, nos prédios, nos cinemas, nos restaurantes e lanchonetes, em todos os espaços encontramos hoje os preconceituosos, xenofóbicos, homofóbicos, nazistas, e seres de todas as espécies de intolerantes de que se tem ciência.

          Não acredito que as redes sociais sejam nocivas, nem que tenha sido elas o estopim para os grandes e novos problemas sociais que enfrentamos. Ao contrário, os novos meios de comunicação abriram as portas para um novo momento na edificação de nossa cultura e de nosso tempero tupiniquim, nossa brasilidade. As televisões e seus canais, a internet, essa ou aquela revista, o site deste ou daquele portal, os aplicativos para smartphones, os sistemas operacionais para hardwares variados, os modelos de inteligência artificial existentes, os objetos e ambientes inteligentes e muitas outras novidades tecnológicas não são os vilões, não são os algozes do nosso tempo. Todos esses instrumentos são criações e descobertas do homem, e são desenvolvidos para seu uso consciente, imaginados para servir a humanidade e dar melhores condições de vida ao ser humano. É nosso o papel de educar nossa sociedade, de formar nossos pares no sentido de se valer do que temos à mão no mundo atual para construir novos valores, sem termos que destruir os antigos ou desconsiderar as construções que são feitas por uma outra pessoa, que é diferente de nós mas que nem por isso menos importante.


          O Brasil que idealizamos é um povo que escreve a própria história percebendo bem suas nuances e dificuldades. A pátria que entoamos nos hinos e nos momentos mais nacionalistas é o ajuntamento de pessoas que se fundem ao verde, amarelo, azul e branco da bandeira, deixando-se perder nesse meio as suas cores particulares e pessoais. A escrita que não conseguimos entender nesse meio é aquela que difere não só no campo ideológico, mas que fere nossos irmãos, que tenta diminuir essa ou aquela região de nossa terra, que mancha de vermelho sangue nossas famílias, que mata a toque de caixa inocentes que um dia só tentaram ser quem são, em uma terra que lhes permitiu sonhar com sua individualidade, desde que essa não atingisse o egoísmo do doente. 

          O Brasil que sonhamos eu não consigo descrever aqui, no máximo posso idealizar tudo que espero ciente de que este espaço não comporta o mínimo dessa idealização, porém posso não deixar de lutar, posso não deixar de querer, posso não deixar de buscar. O que eu não concebo, e tenho autoridade para tanto, é que pessoas se prestem ao papel de escrever textos e posts diversos disseminando o ódio, e incitando a violência contra brasileiros que têm os mesmos direitos que todos nós. Eu até entendo que muitos não aceitem essa ou aquela concepção, que não consigam digerir um ou outro momento e ou situação, porém nunca ei de aceitar, que pessoas se proponham a atingir os outros de maneira indiscriminada e imbecil somente com base em desapontamentos pessoais, caprichos bobos da meninice que não foram resolvidos devidamente na formação adulta do indivíduo...

Por Marcus David


4 comentários:

  1. Muito bom o documentário , uma lição de vida e para dar valor ao que se tem

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  2. Muito bom o documentário , uma lição de vida e para dar valor ao que se tem

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  3. Muito bom o documentário , uma lição de vida e para dar valor ao que se tem

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